O que as queimadas na Amazônia têm a ver com a economia e por que as eras Dilma e Bolsonaro fogem à regra:
O aumento das queimadas na Amazônia no governo Bolsonaro - quase o dobro em relação a 2018 - foge a uma regra verificada em outros anos de recorde de incêndios, segundo pesquisas acadêmicas e cientistas ouvidos pela BBC Brasil News.
Na atual crise das queimadas, ainda não há conclusão definitiva sobre o aumento no desmate, mas já se sabe que não há alterações significativas nos preços de matérias-primas, nem foi constatada uma corrida por terras - fatores apontados como importantes nos outros picos. No caso do governo Dilma, em 2012, uma decisão política foi também a principal responsável pelo desmatamento ter voltado a subir naquele ano, numa tendência de alta até hoje.
A análise dos fatores econômicos ao longo dos anos ajuda a reconstituir as razões pelas quais 325 mil km² de floresta tropical foram ao chão desde 1994, segundo dados do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite , do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais . "Foi uma corrida por direito de propriedade. O dono desmata para mostrar que está, entre aspas, produzindo na terra. E depois vai atrás de regularização. É um problema estrutural na Amazônia até hoje", complementou o economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro Carlos Eduardo Young, especialista em meio ambiente.
Veio então o chamado boom das commodities, a partir de meados de 2003 - e a taxa de queda de árvores na Amazônia passou a acompanhar, ano a ano, o preço das matérias-primas. A demanda por mais produtos, vendidos principalmente à China, só aumentava - enquanto o orçamento para preservação continuou idêntico, na faixa de 0,15% do PIB .
Essa melhoria pode ser dividida em dois períodos, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. Primeiro, em meados do governo Lula, de 2005 a 2008, a queda no desmatamento resulta mais de questões de mercado do que das ações governamentais. Como mostra o gráfico acima, a curva do corte de árvores acompanha a baixa no preço das commodities ."Além disso, o valor do Real aumentou muito, na comparação com o dólar.
A presença dos fiscais do Ibama se fez sentir. Em 2009, o número de multas aplicadas pelo órgão mais do que dobrou em relação aos anos anteriores, como mostra o estudo do Ipea citado acima, do economista Jorge Hargrave. Além disso, a fonte para criminosos ambientais minguou. Primeiro, um decreto do governo passou a proibir a compra de gado de áreas ilegalmente desmatadas.
O menor índice de desmatamento na Amazônia, em 2012, foi recebido com mais celebração. A então presidente Dilma Rousseff foi ao rádio para festejar a queda naquele ano - chegaria a 34% a menos do que no início do seu governo -, falando em"forte ação de fiscalização". Anos depois, consequências já podem ser cientificamente comprovadas: segundo um estudo dos economistas André Albuquerque, da Universidade Federal Fluminense, e Lucas Costa, da UFRJ, entre 2012 e 2017, um quinto do total do desmatamento no período foi resultado direto da alteração do Código. O prejuízo para o Brasil foi da ordem do bilhão - US$ 1,2 bilhão, no cálculo dos pesquisadores.
As 12 entidades participantes - entre elas a Associação Brasileira do Agronegócio e o Imazon - pedem ações da área de segurança pública ligadas ao Ministério da Justiça para combater a grilagem de terras públicas.
Chega-se então ao governo atual e, com ele, a nova piora. Ainda não há pesquisas científicas conclusivas sobre as razões do aumento das queimadas neste ano, mas, como disseram os especialistas, nada indica que variáveis desse tipo estejam por trás da crise na floresta.
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