Uma análise do porquê a música YMCA do Village People, com origens na cultura gay, se tornou um hit em comícios pró-Trump, explorando a nostalgia e a masculinidade americana.
A música YMCA , da banda Village People , é um hit pop animado que incentiva jovens rapazes a frequentarem a Young Men's Christian Association (Associação Cristã de Moços), que surgiu no século 19 e reuniu milhões de associados desde a fundação. Foi tocada pela primeira vez em 1978 por um grupo de dançarinos malhados ostentando bigodes e fantasias de couro coladas ao corpo.
A performance e a letra, interpretada por muita gente com duplo sentido, como uma ode à 'pegação' nesses lugares, fizeram com que a música fosse abraçada pela cultura gay desde seu lançamento. Agora, em um movimento surpreendente, ela tem ficado cada vez mais associada a Donald Trump: é tocada repetidamente em comícios e eventos para arrecadar fundos em Mar-a-Lago, e o presidente eleito dos EUA dança frequentemente ao som da música enquanto seus apoiadores cantam junto. Nesta semana, foi anunciado que o próprio Village People se apresentaria em vários eventos da posse. Trump também é fã de outro sucesso deles: Macho Man. Em uma carreira política na qual não faltam ironias e contradições, esta deve estar no topo da lista. YMCA foi coescrita pelo produtor francês Jacques Moralis e o cantor Victor Willis, com uma mistura de fanfarra, violino, funk (americano) e uma melodia grudenta. Os movimentos de braço da coreografia, que Trump dificilmente acerta, foram adicionados para uma apresentação no programa de TV American Bandstand em 1979. É música de festa de casamento, de playlist de academia e hit de pista de dança. Mas como ela foi das festas para a política? Trump costuma dançar a música YMCA em seus comícios — Foto: Getty Images via BBC 'Imagens da masculinidade americana' Em março de 2020, a música foi certificada como 'culturalmente, historicamente ou esteticamente significativa' pelo Registro Nacional de Gravações da Biblioteca do Congresso dos EUA — um sinal claro de que não era mais vista como subversiva ou picante, mas como uma celebração para todos, como uma forma de se divertir com outras pessoas. Um mês depois, a canção foi tocada em comícios contra a quarentena durante a pandemia de covid-19. Alguns dos manifestantes trocaram as letras YMCA por MAGA (lema de Trump, Make America Great Again, ou 'tornar a América grandiosa de novo', em tradução literal). A música se tornou um 'clássico' em comícios pró-Trump logo em seguida. Enquanto algumas reuniões políticas podem parecer sérias e formais, Trump se orgulha da percepção de que seus comícios têm o clima popular de uma partida esportiva ou um show de rock — então o hit alegre do Village People faz sentido como sua trilha sonora. Mas a ligação entre MAGA e YMCA não é apenas sobre diversão, diz Jamie Saris, professor associado do Departamento de Antropologia da Universidade Maynooth, na Irlanda. 'Não dá para separar Trump e sua base da nostalgia', diz Saris à BBC. 'Eles querem uma releitura. Ou seja, querem reviver certos momentos do passado que idealizaram. Eles simplesmente não querem lidar com as contradições.' 'A era das discotecas era considerada problemática na sua época, mas agora as mesmas pessoas que costumavam se sentir desconfortáveis com ela estão dizendo: 'Os anos 1970 foram ótimos! Minhas costas não doíam!'.' Além disso, diz Saris, a nostalgia inerente ao movimento de apoiadores de Trump frequentemente resvala em algo mais caricatural. 'Você vê trabalhadores de escritório nos comícios de Trump se vestindo como veteranos de guerra, Navy Seals e operários', exemplifica. Por mais estranho que pareça, ela continua, esse cosplay não é tão diferente daquele feito pelo Village People que, com ironia, fetichiza profissões e modos de vida supostamente másculos ao vestir roupas como de policial, soldado, cowboy, indígena americano estereotipado, trabalhador da construção civil e motociclista, argumenta o professor. Todas essas, diz Saris, são 'imagens ainda admiradas da masculinidade americana'. 'Hino gay'? Essas explicações, no entanto, não tornam a ligação entre a música e o político conservador menos intrigante. Jingles de campanha eleitoral tendem a ser sobre patriotismo, liberdade e esperança — não sobre passar um tempo com os 'brothers' quando você está sem dinheiro. Trump não tem, contudo, muitas opções de músicas para escolher. A lista de artistas que reclamaram do uso de canções em comícios ou chegaram a acionar advogados para que enviassem-lhe notificações judiciais é enorme e inclui Beyoncé, Rihanna, Celine Dion, REM, Aerosmith e Jack White. Neste último caso, quando Trump tentou usar a música Seven Nation Army, da banda The White Stripes, em um comício, White, que é o vocalista e guitarrista, mandou um recado no Instagram. 'Nem pensem em usar minha música, seus fascistas. Vão receber um processo dos meus advogados (para somar aos outros 5 mil que vocês já têm)
Village People YMCA Donald Trump Música Política Nostalgia Masculinidade Americana
Brasil Últimas Notícias, Brasil Manchetes
Similar News:Você também pode ler notícias semelhantes a esta que coletamos de outras fontes de notícias.
YMCA: como hit do Village People virou um improvável hino para TrumpAbraçada pela cultura gay desde seu lançamento nos anos 1970, a música acabou tocada à exaustão nos comícios do agora presidente eleito dos EUA — um movimento que, para os especialistas ouvidos pela BBC, não aconteceu por acaso.
Consulte Mais informação »
Village People e Carrie Underwood Conciertam Performances para a Posse de TrumpO grupo Village People e a cantora Carrie Underwood confirmaram sua participação na cerimônia de posse do presidente eleito Donald Trump. A escolha de artistas conhecidos por unir diferentes públicos visa criar um clima de unidade e celebração nacional.
Consulte Mais informação »
Putin Agrees to Meet Trump Anytime, Confident in Ukraine OffensiveRussian President Vladimir Putin expressed willingness to meet with incoming US President Donald Trump at any time, following Trump's call for a ceasefire and negotiations between Russia and Ukraine. Putin, during his annual press conference, stated his preparedness for a meeting if Trump desires. This comes as Trump prepares to take office, promising a swift end to the Ukraine conflict and urging for immediate ceasefire and dialogue. However, concerns linger among Europeans and Ukrainians about Trump potentially pressuring Ukraine into making significant concessions, benefiting the Kremlin. Putin, emphasizing Russia's strength, claims significant territorial gains in Ukraine, stating that the situation is changing rapidly, with his troops advancing kilometers daily. He acknowledged the ongoing battle for Kursk, a Russian region partially controlled by Ukraine since August, assuring victory over Ukrainian forces.
Consulte Mais informação »
Arábia Saudita Executes Record Number of People in 2023Despite claims by Crown Prince Mohammed bin Salman that only murder is punishable by death, Saudi Arabia has executed a record 330 people this year, mostly for drug-related offenses. The country is investing billions to improve its international image and position itself as a tourist destination as part of its 'Vision 2030' plan.
Consulte Mais informação »
Bolsonaro busca representantes para posse de Trump após dificuldades para obter passaporteBolsonaro enfrenta dificuldades para obter o passaporte necessário para a posse de Trump. Michelle, Flávio e Eduardo são considerados como representantes. Moraes pode rejeitar a viagem.
Consulte Mais informação »
Emir do Catar reúne enviados de Biden e Trump para negociar trégua em GazaO Emir do Catar reuniu-se com representantes dos EUA, incluindo enviado de Biden e Trump, para discutir um cessar-fogo em Gaza. Negociações avançam com o objetivo de um acordo nesta semana, pressionado por mediadores e partes dispostas a chegar a um consenso. Questões como a libertação de reféns, a durabilidade do cessar-fogo e a retirada israelense do corredor da Filadélfia permanecem em debate.
Consulte Mais informação »