Velório de 34 anos: o calvário de um homem em busca do corpo do irmão morto pela ditadura
No último dia 4 de setembro, completaram-se 29 anos da descoberta da vala clandestina do cemitério Dom Bosco, no bairro paulistano de Perus. A contagem dos sacos plásticos desenterrados revelou 1.045 ossadas, a maioria de indigentes e também de muitas vítimas da ditadura militar. Passadas quase três décadas, poucas pessoas ali enterradas acabaram sendo identificadas.
Flavio era quatro anos mais velho que eu. Nasceu em 8 de novembro de 1947, no Rio de Janeiro. Iniciou a militância na Ação Libertadora Nacional . Foi preso e fichado no Dops em 1968, quando estudava química na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Saiu de casa para entrar na clandestinidade no dia em que o homem pisou na Lua.
Soube da existência de Perus em 1980, com base em informações de pessoas que conheceram Flavio na clandestinidade. Fui ao cemitério sozinho, já conhecendo a identidade falsa de meu irmão. O administrador indicou o local onde estava a vala: uma área gramada, com o terreno ligeiramente inclinado e, claro, sem qualquer indicação do que havia ali embaixo.
Em 2005, os restos mortais de Flavio foram identificados por exames de DNA por um laboratório de São Paulo. Nesses anos de busca, acompanhamos o descaso com as ossadas, que passaram por três universidades diferentes e ficaram boa parte do tempo esquecidas, em locais impróprios, empilhadas em salas úmidas.
A opção de Flavio pela luta armada deve ser analisada no contexto da época. Hoje, a história mostra que era uma perspectiva equivocada. Ela mostra também as atrocidades institucionalizadas pelo estado, como a tortura, o assassinato de prisioneiros e ocultação de cadáveres. Embora soubesse de sua morte desde 1971, só tomei conhecimento de seu assassinato por meio de documentos oficiais em julho de 1979. Contei a meu pai num final de tarde.
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