Um homem que sobreviveu à chacina da Candelária em 1993 se tornou consultor para a série da Netflix 'Os Quatro da Candelária', relembrando sua experiência traumática e lutando para manter a história viva.
Nasci e cresci nas ruas do Rio de Janeiro até os 5 anos, junto com minha mãe, que, sem condições, me abandonou no Juizado de Menores. Era muito novo e nem me lembro do seu rosto, mas, procurando aqui e ali, descobri ao menos seu nome e que também tenho uma irmã, de quem nunca me aproximei. Não sinto esse elo. Fui pulando de orfanato em orfanato, submetido a violências diversas por parte daqueles que deveriam me proteger. Rodei mais de dez instituições.
Não comia direito e fui vítima de agressão sexual e tortura física e psicológica. Um dia, ainda nos anos 1980, fecharam o orfanato em que eu morava e passei a viver nas escadarias da Igreja da Candelária, com outros meninos, no Centro carioca — palco da chacina que chocou o país. Só consegui escapar por obra do acaso. Estava com fome e havia ido procurar o que comer quando a polícia saiu atirando, do nada. Uma tragédia que completou três décadas e que nunca imaginei revisitar. Mas o mundo girou, e cutuquei esse capítulo tão traumático agora, num papel completamente diferente: fui consultor da série Os Quatro da Candelária (Netflix). Não queria que a história se apagasse. Naquela época, não tive direito de ser menino. Para sobreviver, revirava lixo, cometia pequenos delitos e passava óleo no corpo para escapar dos policiais, o que me rendeu o apelido de Escorrego. O cotidiano nas ruas é incerto, desesperador. Em um momento, vi uma mulher morrer ao meu lado. Passei mais de um ano sem conseguir falar. Quando já dormia na área da Candelária, havia uma escalada do crime na região, e um monte de “pivetes” como nós chamava a atenção da polícia. Na véspera da chacina, ocorreu um confronto direto. A garotada lançou pedras contra uma viatura, e os PMs prometeram vingança. E cumpriram. Abriram fogo contra dezenas de pessoas que estavam nas bandas da igreja naquele triste 23 de julho de 1993. Oito morreram, seis menores de idade, todos conhecidos. Estava longe no exato momento da chacin
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