O texto aborda os dilemas éticos que as jogadoras de futebol espanholas enfrentariam caso a Supercopa feminina fosse disputada na Arábia Saudita. A autora argumenta que o cenário levanta questões sobre a obrigação das jogadoras em cumprir ordens que violam seus princípios morais e direitos humanos, levando em consideração a discriminação contra as mulheres na Arábia Saudita.
O terreno de jogo laboral no desporto insere-se entre o contrato e a licença. Com o primeiro, vinculas-te a um clube e, com a segunda, participas numa competição. É preciso prevenir sobre este aspeto, pois é precisamente o que o diferencia de qualquer outro campo profissional. Ou seja, no desporto verifica-se uma paradoxal situação em que podes ter contrato e isso não ser suficiente para exerceres a tua profissão.
Centrando-nos na possibilidade de que a Supercopa feminina de futebol possa ser disputada na Arábia Saudita, o primeiro ponto a ter em conta é que o local de celebraçao não é escolhido pelo clube, enquanto empresa, mas sim pela Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), pois a competição depende desta. A questão seguinte, agora, é se o clube, obrigado pela Federação, decide trasladar essa competição para este país, onde se observa uma evidente discriminação contra as mulheres. Isso, para algumas jogadoras/trabalhadoras, significaria viajar, concentrar-se e jogar num território onde as leis espanholas são sistematicamente violadas, concretamente o artigo 14 da Constituição Espanhola. A jogadora/trabalhadora ficaria, portanto, numa encruzilhada: obedecer à Federação, que não é a sua empresa, mas que impõe em relação à sua licença, apesar de estar contra a sua vontade ou consciência moral. Ou, em contrapartida, objetar como trabalhadora e não aceitar uma norma que não só vai contra os seus princípios e o de proteção da igualdade, como é contrária à própria legislação do seu país.Para além disso, se os atuais mandatários da RFEF decidirem fazer isso, será sem levar em consideração e mesmo a despeito da existência de um processo judicial em curso, num tribunal em Majadahonda, contra o anterior presidente por alegados crimes de corrupção em negócios, má administração e branqueamento de capitais, com foco no traslado da Supercopa masculina também para a Arábia Saudita. Estas trabalhadoras teriam de ser protegidas de uma imposição, com tons puramente económicos, que as obrigue a exercer a sua profissão num país que não as respeita como mulheres. Um país que não as considera em igualdade de condições em relação aos homens. Basta recordar o recente antecedente de algumas compatriotas à saída do estádio onde se celebrou a última Supercopa de Espanha masculina. A questão é: as jogadoras/trabalhadoras teriam argumentos jurídicos a que apelarem em caso de se recusarem a seguir as ordens das suas empresas, já que a RFEF decidiu enviá-las para jogar uma competição espanhola fora de Espanha? Em princípio, seguindo o nosso ordenamento jurídico, teriam argumentos que não as fariam cair num incumprimento de contrato, baseando-se não só no direito de objeção, mas também no que se objeta é legitimar ou não a desigualdade entre homens e mulheres, além de branquear através de um espectáculo desportivo uma situação instalada legítimamente naquele país de discriminação de mulheres frente a homens. Jurisprudencialmente, existem pronunciamentos nesse sentido. Não se trata, portanto, de dar uma categoria de fanatismo aos princípios individuais. É algo muito mais profundo. Trata-se de salvaguardar direitos universais de qualquer país democrático, e fazer com que estes sejam cumpridos frente à omissão por acção. Para finalizar, a própria Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia reconhece, no seu artigo 10.2, o direito à objecção de consciência. Ainda mais, devemos ter em conta, no âmbito laboral, a recomendação 157 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que preconiza fundamentalmente a excepção de aquelas tarefas que entram em conflito com as suas “convicções religiosas, morais ou éticas”
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