Enquanto se recuperava imóvel na cama do hospital, o belgo-basileiro Sebastien Bellin elegeu como 'sonho impossível' para motivar sua recuperação a famosa competição de triatlo que acontece no Havaí
Atenção: esta reportagem inclui uma descrição detalhada, com imagens, de um ataque a bomba.
Doze horas depois, o belga estava deitado no piso do aeroporto da cidade. Há uma foto daquele momento. Duas malas, uma em cada lado da área de check-in, haviam acabado de explodir, atingindo uma multidão. Dezesseis pessoas morreram no aeroporto. Bellin poderia facilmente ter sido mais uma vítima fatal.
Bellin nasceu em São Paulo. Sua mãe era fisioterapeuta – "muito hippie, muito liberal, simplesmente um espírito livre". Seu pai era um executivo arrojado, mais conservador e concentrado nos negócios. "O esporte é a maior sala de aula do mundo. Tudo o que você precisa saber na vida está ali", afirma Bellin. "Ele mostra que existem muitos caminhos diferentes. Não existe um caminho correto, sempre há uma alternativa."
"Quando me vi naquele momento, observei talvez de uma forma um pouco diferente dos demais: a questão é o agora, é o momento", ele conta. Bellin convenceu um carregador que passava a erguê-lo sobre um carrinho de bagagem e empurrá-lo até a frente do aeroporto. Sua ideia era ficar no lugar por onde chegariam os médicos.
Quarenta e um dias depois do ataque, suas filhas pequenas viajaram da casa da família nos Estados Unidos para um encontro emotivo, que foi transmitida pela TV americana. Pouco a pouco, ele reaprendeu a andar, ajustando-se à nova realidade e às suas novas dificuldades. Ele não sentia nada abaixo do joelho na sua perna esquerda. O osso metatarso do seu pé foi retirado depois que começou a infeccionar."Sou uma pessoa que ama o movimento e fiquei imóvel, com a notícia de que seria deficiente pelo resto da vida", ele conta.
"Acho que havia dado, no máximo, seis voltas em torno da pista como atleta profissional. E certamente não havia andado de bicicleta, nem nadado", ele conta. "A questão nunca foi a minha velocidade; o objetivo era mostrar para mim mesmo que o meu corpo e minha mente são capazes, apesar das limitações", afirma Bellin."Sou um sobrevivente e devo isso às pessoas que morreram naquele dia – e ao meu país, pois sou belga com orgulho – para poder me superar constantemente. Não vou sucumbir a isso.
Estava exausto. Tinha uma passagem para o primeiro voo para Nova York, nos Estados Unidos, no dia seguinte. Só queria dormir."Era um grande amigo meu, Greg", relembra. "A esposa dele é professora junto com a minha, na Escola Internacional de Bruxelas." "Greg finalmente disse: 'Seb, você precisa comer. Eu amo você, cara, só quero ver você.' Então, fui encontrar a ele e sua esposa Cara no restaurante e comi aquele primeiro prato de macarrão tão rápido que o garçom trouxe mais dois."
"Na vida, acontece o mesmo. Você consegue medir o amor, paixão, empatia, tolerância, mente aberta? Você não pode medir essas coisas. São qualidades, não quantidades."
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