O campo de concentração português, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, fechou em 1º de maio de 1974, seis dias depois da revolução que acabou com a ditadura em Portugal.
Ele fez parte do primeiro grupo de presos que foi construir o campo, que naquela altura tinha pouco mais do que tendas. Era outubro de 1936.Ao lado viajava o seu pai, Gabriel Pedro, também opositor ao governo. Nenhum dos dois sabia, naquele momento, quanto tempo iam passar no exílio. Só voltaram 10 anos depois.
Inicialmente tratava-se de apenas um campo com tendas de lona. "Foram os próprios presos, em regime de trabalhos forçados, que construíram depois os diferentes barracões", diz Nélida Brito, professora de História Contemporânea na Universidade de Cabo Verde. "Exposta ao sol intenso de Cabo Verde, o calor ali dentro podia chegar aos 60 graus", diz a professora de história.
"Não se pode imaginar o que era aquilo. A temperatura lá dentro chegava a atingir quase 50 graus. À noite havia uma condensação e a umidade escorria pelas paredes e nós lambíamos aquilo. Tiraram-nos a água. Não se faz ideia do que era aquele sofrimento", contou ele em entrevista ao jornal português i, em 2017.A maioria dos presos ia parar ao campo do Tarrafal sem qualquer julgamento.
No lugar dele surge a "holandinha", uma construção em cimento, também precária, mas que estava dentro de outro edifício, impossível de ver do exterior. "Foi muito emocionante assistir àquilo. Muitos nem se conheciam, a maioria nunca tinha voltado ali e aquela partilha de memórias comuns, foi reparador. Entraram ali de outra forma, como vitoriosos, porque o que estes africanos, presos nos anos 1960, tinham em comum com os portugueses, presos nos anos 30, era o anti-fascismo e o anti-colonialismo."
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