Além das alegações de tortura e abuso, o relato de Merdan Ghappar parece evidenciar que, apesar da China insistir que a maioria dos campos foi fechada, os uigures continuam sendo detidos e mantidos presos sem acusação.
Image captionMerdan Ghappar estava acostumado a posar para as câmeras. Como modelo do megasite de compras chinês Taobao, o jovem de 31 anos era bem pago para aparecer em vídeos promocionais de diferentes marcas de roupas.Em vez das habituais luzes de estúdio ou calçadas chiques, o pano de fundo é uma sala vazia com paredes sujas e grades de aço na janela. No lugar das poses de modelo, Ghappar aparece silenciosamente sentado com uma expressão ansiosa.
Estima-se que nos últimos anos mais de um milhão de uigures e outras minorias tenham sido levados à força a uma rede de campos de segurança máxima em Xinjiang.Milhares de crianças foram separadas de seus pais e, segundo revelações recentes, mulheres foram submetidas à força a métodos de controle de natalidade.
A família de Ghappar, que não tem notícias dele desde que as mensagens foram interrompidas, cinco meses atrás, está ciente de que o lançamento do vídeo de quatro minutos e trinta e oito segundos que feito por ele em sua cela pode aumentar a pressão e as punições que ele enfrenta. Ele havia estudado dança na Universidade de Artes de Xinjiang e, depois de anos trabalhando como dançarino, foi contratado como modelo na cidade de Foshan, no sul da China.Sua história pareceria uma propaganda da economia dinâmica do país e do"China Dream" do presidente Xi Jinping.
Se verdadeiramente culpado ou não, havia pouca chance de absolvição, com estatísticas mostrando que mais de 99% dos réus dos tribunais criminais chineses são condenados.Estima-se que até um milhão de muçulmanos tenham sido detidos em campos de prisioneiros em XinjiangPouco mais de um mês depois, a polícia bateu à sua porta, dizendo que ele precisava retornar a Xinjiang para concluir um procedimento burocrático de rotina.
As mensagens de texto de Ghappar, que teriam sido enviadas da mesma sala onde o vídeo foi gravado, mostram um cenário ainda mais aterrorizante de sua experiência depois de chegar a Xinjiang. O uso pela China dessas combinações de algemas de mãos e pernas foi criticado no passado por grupos de direitos humanos.
E ele descreve condições insalubres - presos sofrendo com piolhos e compartilhando as mesmas tigelas e colheres de plástico com os demais. O relato de Ghappar indica que a aplicação das regras de quarentena era muito mais rígida em Xinjiang do que em outros lugares."Durante o período de isolamento, eles foram vistos fora jogando um jogo parecido com beisebol", escreve ele.
Alguns dias depois, os prisioneiros foram carregados em um micro-onibus e levados para um local desconhecido. Ghappar, que estava resfriado e com o nariz escorrendo, foi separado do resto e colocado no ambiente visto no vídeo que ele enviou - um local que ele descreveu como um"centro de controle de epidemias"."Todo o meu corpo está coberto de piolhos e pulgas. Todos os dias eu os pego e tiro, coça demais", ele escreve.
É impossível verificar independentemente a autenticidade das mensagens de texto. Mas especialistas dizem que o vídeo parece genuíno, principalmente por causa das mensagens de propaganda que podem ser ouvidas em segundo plano. Adrian Zenz, pesquisador sênior da China na Fundação Memorial das Vítimas do Comunismo e outro importante estudioso de Xinjiang, sugere que o valor real do vídeo é responder ao que diz o governo chinês ao afirmar que o sistema de campos está sendo destruído.
O apelo do documento para que crianças a partir de 13 anos"se arrependam de seus erros e se entreguem voluntariamente" parece ser uma nova evidência da extensão do monitoramento e controle que a China exerce sobre os pensamentos e comportamentos dos uigures e outras minorias. O ativismo de Abdulhakim, que começou em 2009, em Xinjiang, quando ele ajudou a distribuir panfletos antes de um grande protesto na cidade de Urumqi, foi a principal razão pela qual ele fugiu para a Holanda.
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