Duas pessoas morreram e seis ficaram feridas após ataque a assentamento do MST em Tremembé, São Paulo. 'Nero do Piseiro' foi preso e apontado como mentor. Investigação busca outro suspeito. MST classifica como 'massacre' e cobra segurança.
O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a prisão temporária de Antonio Martins dos Santos Filho, conhecido como 'Nero do Piseiro' e apontado como mentor intelectual do ataque ao assentamento do MST em Tremembé, na região do Vale do Paraíba. O crime ocorrido na noite de sexta-feira deixou dois mortos e seis feridos. 'Nero do Piseiro' foi preso ontem, após ser reconhecido por testemunhas.
Após passar por audiência de custódia na manhã deste domingo, a Justiça determinou a prisão por 30 dias. Ontem, a Secretaria Estadual de Segurança Pública anunciou que Nero passou a colaborar com as buscas. Ele já tinha passagem pela polícia por porte ilegal de arma de fogo e foi reconhecido por testemunhas. A seccional de Taubaté da Polícia Civil de São Paulo também pediu a prisão de um segundo suspeito do ataque. Identificado como Ítalo Rodrigues da Silva, ele seria um dos comparsas de 'Nero do Piseiro'. Ítalo ainda não foi localizado. De acordo com delegado Marcos Rogério Pereira Machado, 'Nero do Piseiro' permanece detido no centro de triagem de Taubaté. A investigação ainda não tem o número de pessoas que fizeram o ataque ao assentamento, mas calcula cerca de 10 pessoas, baseado no relato das testemunhas. Segundo o delegado Marcos Ricardo Parra, a principal linha de investigação é a de que o grupo executou membros do acampamento após desentendimento sobre uma eventual venda irregular de um lote do terreno.Integrantes do MST relatam que os criminosos invadiram a propriedade por volta das 23h da noite, em pelo menos cinco carros e duas motos, e efetuaram os disparos sem qualquer aviso. As vítimas estavam em um espaço coletivo do assentamento no momento do ataque. Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 morreram no local. Os demais atingidos, com idades entre 18 e 49 anos, receberam atendimento no pronto-socorro de Tremembé e no hospital regional de Taubaté. O GLOBO procurou o Hospital Regional do Vale do Paraíba, gerido pela Sociedade Beneficente São Camilo, e a Secretaria Estadual da Saúde para atualizar o estado das vítimas neste domingo, mas a pasta declarou que não repassa informações de casos desse tipo. O movimento classificou a ação como um 'massacre' e criticou a 'falta de políticas públicas de segurança nos territórios da reforma agrária'. O velório de Valdir e Gleison ocorreu na manhã deste domingo (12) no Cemitério Municipal de Tremembé. A cremação estava prevista para o início da tarde. No ofício enviado à PF, o ministro em exercício, Manoel Carlos de Almeida Neto, cita a violação a direitos humanos. Uma equipe da PF, com agentes, perito e papiloscopista já foi acionada.Gilmar Mauro, dirigente nacional do MST, diz que a região tem assentamentos próximos às zonas urbanas e que isso motiva a invasão de lotes de reforma agrária 'com o objetivo de transformar essas áreas em condomínios e atender a especulação imobiliária'. Segundo ele, milícias armadas atuam em execuções como a registrada na madrugada de sexta-feira. — Famílias estavam lá para impedir a entrada dessa milícia e foram abordados por um arsenal. Por sorte não morreu mais gente — declarou o líder do movimento. O presidente Lula (PT) teria prometido ao movimento fazer uma visita ao local assim que tiver disponibilidade, segundo Mauro. O governo federal, por meio do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, foi cobrado por lideranças para resolver o problema da segurança nos assentamentos do Vale do Paraíba.
MST ATAQUE MORTOS PRESO SEGURANÇA
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