O Problema Estrutural do Sistema de Metas do Banco Central Brasileiro

Economia Notícia

O Problema Estrutural do Sistema de Metas do Banco Central Brasileiro
InflaçãoBanco CentralSistema De Metas
  • 📰 CNNBrasil
  • ⏱ Reading Time:
  • 234 sec. here
  • 11 min. at publisher
  • 📊 Quality Score:
  • News: 118%
  • Publisher: 97%

O autor argumenta que o sistema de metas do Banco Central Brasileiro, apesar de ter como objetivo controlar a inflação, apresenta um problema estrutural que o impede de atingir esse objetivo de forma eficaz. A principal causa, segundo o autor, é a calibragem inadequada da meta de inflação em relação à volatilidade nominal da economia brasileira. Além disso, o autor aponta para outros fatores que contribuem para essa volatilidade, como a incerteza fiscal e a taxa de câmbio, e propõe soluções para que o Banco Central possa operar de forma mais eficiente.

Com a divulgação do IPCA de dezembro em 4,83% para o ano, podemos confirmar o que todos esperavam: que pelo terceiro ano em quatro o Banco Central (BC) não conseguiu entregar a inflação no final do ano dentro do intervalo de tolerância de 4,5%. Há certamente várias explicações conjunturais para explicar o ocorrido que deve ser detalhada na carta que o Banco Central deve divulgar logo mais.

Mas quando algo dessa natureza se repete dentro de diferentes circunstâncias, deveríamos nos perguntar se o problema é de fato meramente conjuntural ou se há também um problema estrutural com o sistema de metas como praticado pelo Banco Central. Vou aqui argumentar que sim: o sistema de metas (incluindo a recente mudança para uma meta contínua) não está adequadamente calibrado para o nível de volatilidade nominal da economia brasileira. O que que isso causa? Volatilidade, como energia, precisa se expressar em qualquer sistema complexo estocástico sujeito a controle. Se você tem uma meta (neste caso de inflação) muito pequena em relação ao instrumento de controle, neste caso a taxa Selic, essa volatilidade se expressa em grandes variâncias na taxa de juros: por isso nesses anos vimos a taxa Selic ir de 14,25% para 2% e agora (em breve) de volta a 14,25%. Essa enorme volatilidade na taxa de juros evidentemente é muito ruim para a economia real e o bem-estar da população. E, nem com o Banco Central agressivamente usando seu instrumento, a instituição consegue entregar a inflação dentro da banda de tolerância da meta! Parece então que a solução é óbvia seria: mudem a meta! Errado! O problema é que temos aqui um sistema com expectativas “racionais” (no sentido que os agentes dentro do sistema formam projeções do futuro que impactam suas decisões no presente). Assim, simplesmente mudar a elevação da meta vai acabar deslocando as expectativas para o novo ponto focal, e no médio prazo nada vai mudar: continuaremos a ter alta volatilidade na taxa de juros e na inflação. Trabalhar com uma banda de tolerância mais largas também não é, isoladamente, uma boa solução. Simplesmente vamos trocar a volatilidade na taxa Selic para mais volatilidade na inflação. O que devemos endereçar são as fontes subjacentes dessa volatilidade nominal, e a partir disso, calibrar a meta de inflação para a volatilidade esperada (volto no final do texto sugerir como isso pode ser feito). Obviamente uma condição necessária (mas não suficiente) para baixar o nível de volatilidade nominal é um sistema fiscal que estabilize a expectativa da trajetória do endividamento público. Sem isso o Banco Central fica operando naquilo que eu chamo de regime de dominância fiscal parcial, onde a taxa de juros é calibrada não para entregar a inflação na meta, mas sim para pagar um prêmio de risco suficientemente alto para controlar a fuga de capitais e manter uma mínima estabilidade financeira. Outra fonte de volatilidade nominal é a taxa de câmbio. Aqui o Banco Central pode contribuir repensando sua sistemática de intervenção que além de administrar as condições de liquidez do mercado, mirando diretamente a reação do mercado a choques. Um programa de venda de volatilidade via opções de swaps cambiais, deixando o mercado estruturalmente comprado em volatilidade, implica uma variação menor da taxa de câmbio a choques. Tal política acabaria transferindo a volatilidade da taxa de câmbio (e da taxa de juros e do crescimento econômico) para o resultado financeiro do Banco Central, algo que o Banco tem ampla reservas internacionais para absorver. Outro fator seria diminuir a indexação de preços e salários como um todo que alimentam a inércia inflacionária. Aqui não seria algo estritamente na alçada do Banco Central, mas a instituição tem o instrumental técnico para liderar o debate e mostrar os efeitos nefastos dessa indexação residual que sobreviveu ao Plano Real. Finalmente, o Banco Central pode rever regras macro e micro prudenciais – especialmente para a indústria de fundos – para coibir o fenômeno de “crowding” de posições, o que gera forte volatilidade quando essas apostas direcionais têm que ser liquidadas ao mesmo tempo. Agindo nessas fontes de volatilidade, o Banco Central então pode usar modelos de equilíbrio geral como o SAMBA para estimar a volatilidade nominal com diferentes candidatos a metas de inflação, escolhendo a meta que minimiza a volatilidade da inflação e do crescimento econômico, sendo desta maneira um regime de metas plausível para maximizar o bem-estar da população. Na melhor das hipóteses tal reformulação do sistema de metas deveria ocorrer em um momento em que a inflação esteja mais perto da meta, e como já disse acima, sem estabilizar a expectativas sobre a trajetória fiscal não há nada que o Banco Central possa fazer fora aumentar os juros para comprar tempo até houver alguma solução ao problema fiscal. Mas ainda assim espero que o novo presidente da autarquia esteja aberto a pensar “fora da caixa” e iniciar as discussões e debates sobre estes temas. Se não, estaremos condenados a repetir nosso triste passado

Resumimos esta notícia para que você possa lê-la rapidamente. Se você se interessou pela notícia, pode ler o texto completo aqui. Consulte Mais informação:

CNNBrasil /  🏆 2. in BR

Inflação Banco Central Sistema De Metas Volatilidade Nominal Política Fiscal Taxa De Câmbio

Brasil Últimas Notícias, Brasil Manchetes

Similar News:Você também pode ler notícias semelhantes a esta que coletamos de outras fontes de notícias.

Banco Central Brasileiro Intervem no Câmbio para Combater DisfunçõesBanco Central Brasileiro Intervem no Câmbio para Combater DisfunçõesO presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, esclareceu que as ações do banco no mercado cambial visam corrigir disfunções e não interferir em prêmios de risco, dívida ou política monetária. Ele afirmou que o objetivo não é determinar um valor específico para o dólar frente ao real, mas sim garantir uma negociação organizada e eficiente.
Consulte Mais informação »

Desconfiança de Lula com o BC tende a acabar em 2025, diz MeirellesDesconfiança de Lula com o BC tende a acabar em 2025, diz MeirellesEx-presidente do Banco Central sugere que, para Lula, o grande problema era Campos Neto
Consulte Mais informação »

Após alta da Selic, CNI diz que Banco Central precisa rever postura urgentementeApós alta da Selic, CNI diz que Banco Central precisa rever postura urgentementeEntidade avalia decisão do Comitê de Política Monetária como injustificada e incompreensível; alta da taxa básica de juros é a terceira consecutiva
Consulte Mais informação »

Conselho presidido por Alckmin aprova ‘moção crítica’ à elevação dos juros pelo Banco CentralConselho presidido por Alckmin aprova ‘moção crítica’ à elevação dos juros pelo Banco CentralO Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) tem representantes de 20 ministérios, do BNDES e de 21 entidades da sociedade civil
Consulte Mais informação »

Banco Central faz dois leilões no câmbio nesta quinta-feira (12)Banco Central faz dois leilões no câmbio nesta quinta-feira (12)Primeiro certame desta modalidade deve ofertar US$4 bilhões, em dois leilões de linha
Consulte Mais informação »

Banco Central adverte: era crise, agora é emergência econômicaBanco Central adverte: era crise, agora é emergência econômicaJuros de Lula foram equiparados aos da crise de Dilma. É previsível maior corrosão no poder de compra dos mais pobres, maioria no eleitorado
Consulte Mais informação »



Render Time: 2025-02-19 11:38:12