O fim do bairro mais bonito da Faixa de Gaza g1
Por volta do meio-dia da sexta-feira, 20 de outubro, os moradores de al-Zahra, sofisticado bairro de Gaza, estavam entre a poeira e escombros do que, dias antes, eram as suas casas.
Hana Hussen, que cresceu em al-Zahra, acompanhou horrorizada as notícias a centenas de quilômetros de distância, na Turquia, para onde ela se mudou dois anos atrás. Em um telefonema apressado naquela dia, ela ligou para a família na tentativa de entender se eles estavam em segurança.
O agente que telefonou para o dentista também disse: "Nós vemos coisas que vocês não veem". Os vizinhos de Mahmoud podem ter escapado vivos, mas nem todos sobreviveram ao que estava por vir. Nossa comunicação foi feita por meio de ligações que caíam — às vezes com bombas estourando ao fundo — e mensagens esporádicas via WhatsApp. Conversas eram interrompidas para correr em busca de abrigo. Em alguns casos, perdemos contato por dias.
Al-Zahra foi fundada nos anos 1990 pelo ex-presidente da Autoridade Palestina Yasser Arafat como um lugar para sua equipe e também apoiadores. Moradores dizem ainda ter fortes conexões com a Autoridade Palestina, que hoje está baseada na Cisjordânia ocupada e é um rival direto do Hamas. Agora o mesmo grupo serve como veículo para compartilhar atualizações sobre a destruição do bairro e contar os mortos. O grupo nunca tinha ocupado tanto o tempo de Nashwa.
"Uma pessoa me ligou e disse que 'andou ao lado da sua torre e estava tudo no chão'," lembra. A vida de Nashwa e de sua família nunca será a mesma no bairro de al-Zahra — Foto: BBC O professor universitário Ahmed Hammad, que viveu em um prédio perto de Nashwa, era outro integrante dessa comunidade. Ele foi um dos que escolheram permanecer no bairro após os ataques. Com cerca de 50 anos, ele dá aulas de mídia e comunicação em uma universidade ao norte do bairro, quer enviar seus artigos de pesquisa à BBC e fala com orgulho de seus seis filhos, com idades entre oito e 27 anos.
Em uma sinalização do quanto a guerra mudou a vida lá, Hana conta que começou a receber mensagens "assustadoras" daqueles mesmos amigos — um perguntando se ela poderia cuidar dos seus filhos caso morresse, outros pedindo ajuda sobre "opções alternativas para produtos de higiene feminina". Um outro desejava apenas ter água potável para beber.
Agora, ele às vezes termina as conversas via WhatsApp de forma abrupta. "Preciso ir agora porque as bombas deles estão perto de mim", escreveu em uma mensagem. Os dois haviam investido muito dinheiro para construir uma vida lá. Ali casou-se no início do ano e gastou US$ 6 mil em móveis que estavam sendo mantidos na casa da família, onde ele e sua esposa grávida estavam morando.
Mohamed conta que seu pai havia recentemente realizado o último pagamento pela casa da família, e todos precisaram abandonar o local naquela noite. "Ele terminou de pagar aquele apartamento e agora tudo se foi", afirma.
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