Opinião | No neoliberalismo, o sucesso e o fracasso são despolitizados. Tudo se resume ao mérito ou culpa do indivíduo. Por Esther Solano.
Meu mérito, minha conquista. Meu fracasso, minha culpa. A culpa também é produto da lógica do neoliberalismo. O sucesso despolitiza-se, mas o fracasso também. Lembro-me da entrevista de uma mulher adolescente, digamos que de nome Bárbara, negra e periférica, que iria votar em Jair Bolsonaro e repetia, convicta, o discurso da meritocracia.
Bárbara, mulher negra periférica, me disse, com calma e contundência, que racismo, pobreza e machismo, no Brasil, são “vitimismo”. Penso com frequência nela. Não sei se ela entrou na faculdade. Se não, com certeza ela sente que o fracasso foi culpa dela, mas, calma, o neoliberalismo também tem resposta para isso, basta combater a dor com remédios.
João Doria soube muito bem jogar esse jogo na sua campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo, em 2016. Ele era o João Trabalhador, que acordava cedo e, suando a camisa, conseguiu se transformar no Doria empresário. Querer é poder. Você é foda, você é um vencedor, basta ter vontade e correr atrás. Todo mundo pode ser um empresário de sucesso. Do neoliberalismo ao, outra ferramenta feroz de controle e violência.
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