O estudo 'Aterrizando na Água: Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira' revela que o avanço no controle aéreo no Brasil, a partir de 2004, impulsionou o tráfico de cocaína para as águas do Amazonas, aumentando a violência e expondo comunidades ribeirinhas a riscos.
O avanço no controle aéreo e a implementação de uma política de abate de aeronaves ilegais a partir de 2004 no Brasil impulsionaram uma mudança significativa nas rotas de tráfico de cocaína na Amazônia. Criminosos, diante da intensificação dos controles aéreos, optaram por redirecionar o fluxo de drogas para os rios, expondo comunidades ribeirinhas aos perigos da presença de organizações armadas e ao aumento da violência.
Essa conclusão se baseia no estudo 'Aterrizando na Água: Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira', realizado pelo projeto Amazônia 2030.Segundo o estudo, a partir de 2004, o controle aéreo na região amazônica se tornou mais robusto com a inauguração do Cindacta 4, sistema do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) da FAB (Força Aérea Brasileira). A partir dessa data, o gerenciamento e o controle do tráfego aéreo na região se intensificaram, tornando as operações aéreas mais perigosas e, consequentemente, mais caras. Paralelamente, a legislação brasileira passou a autorizar o abate da FAB a aeronaves ilegais na região de fronteira, disestimulando o uso do ar como meio de transporte para o tráfico.O estudo demonstra que, entre os anos 2000 e 2019, a taxa de homicídios na região da Amazônia quase duplicou. A pesquisa aponta que 27% dos assassinatos nos municípios impactados pelos rios podem ser atribuídos a esse novo fluxo de tráfico de drogas, representando 1.430 mortes adicionais entre 2005 e 2020. A maioria dos homicídios ocorre fora de residências, envolvendo armas de fogo, e afeta principalmente homens jovens. O impacto é mais significativo entre homens de 20 a 49 anos, mas também houve um aumento em homicídios de adolescentes e jovens adultos. Os dados não revelam um aumento significativo de homicídios relacionados a conflitos fundiários, sugerindo que o impacto é mais diretamente associado ao tráfico de drogas.O estudo destaca que o tráfico utiliza cinco grandes afluentes do rio Amazonas, que têm origem nos Andes e conectam áreas produtoras de cocaína aos centros urbanos, como Manaus. Rodrigo Soares, um dos autores do estudo e professor do Insper, afirma que a chegada do tráfico teve impactos sociais significativos, como a cooptação de barqueiros para transportar as drogas e o envolvimento de jovens para atuarem nos grupos criminosos. A grande preocupação é que essas comunidades caminhem na direção de serem controladas por facções, como ocorre em algumas regiões das grandes cidades. Há relatos desse tipo de controle, embora não estejam bem documentados. Aprofundar esse entendimento é fundamental para desenhar políticas públicas eficientes para essas áreas. Rodrigo explica que a exploração das rotas fluviais começou por grupos menores e, ao longo do tempo, atraiu grupos maiores até a chegada de facções como o CV e o PCC. 'Grupos menos estruturados começaram. As rotas foram se consolidando e se mostrando lucrativas, e o interesse e presença das facções foram crescendo a partir de meados de 2010', diz Rodrigo, pesquisador nas áreas de desenvolvimento econômico, saúde, demografia econômica e crime.Diante dessa transferência do tráfico para as rotas fluviais, é urgente aumentar a fiscalização e o monitoramento nessas vias, utilizando tecnologia de ponta, como drones e radares móveis, além de aprimorar a coordenação entre os órgãos de fiscalização. Para mitigar o envolvimento das comunidades no tráfico de drogas, é fundamental oferecer programas de educação e capacitação profissional que proporcionem alternativas econômicas sustentáveis e combata a vulnerabilidade das populações locais. Promover o desenvolvimento sustentável por meio de alternativas econômicas, como a certificação de produtos florestais e a promoção da bioeconomia, de modo a oferecer fontes de renda que não dependam do tráfico de drogas, também é crucial.Fortalecer a cooperação com os países vizinhos, principalmente na região andina, para garantir uma abordagem coordenada no combate ao tráfico de cocaína, com maior troca de informações e práticas de segurança transnacional, é um passo fundamental
TRÁFICO DE DROGAS AMAZÔNIA VIOLÊNCIA CONTROL AERIO RIOS
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