Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva se define como 'sustentabilista progressista' e comenta desmonte da política ambiental por Bolsonaro. Por agenciapublica.
Ex-ministra do Meio Ambiente se define como ‘sustentabilista progressista’ e comenta desmonte da política ambiental por Bolsonaro“O cenário de 2020 é incomparavelmente mais preocupante.” Essa é a análise da ex-ministra Marina Silva em relação aos próximos passos da agenda ambiental de Jair Bolsonaro.
Quando olhamos para todos esses acontecimentos, encontramos uma raiz: a necessidade caudilhesca de se perpetuar no poder, uma atitude bastante focada numa liderança forte e única que não prepara novas lideranças. Diferentemente do que aconteceu com o [Pepe] Mujica, que foi capaz de produzir um sucessor, na maioria dos outros casos isso não aconteceu, ou pelo menos houve uma tentativa de não permitir que acontecesse.
Para além disso, é preciso que se tenha claro que um erro não justifica o outro: o uso da violência, os confrontos, o esgarçamento dos processos institucionais, uma atitude altamente antidemocrática e autoritária, beirando o fundamentalismo político e ideológico, misturando com o fundamentalismo religioso, em prejuízo da democracia, das instituições e da sociedade.
AP – A Bolívia é a bola da vez e a senhora citou a Venezuela, mas o Chile, a Argentina e o Equador também enfrentaram grandes manifestações recentemente. Qual reflexo em nossa realidade do que acontece no continente?É que a nossa realidade não é uma ilha asséptica. Nós estamos afetando a América Latina.
AP – Há pouco mais de uma semana, o ex-presidente Lula foi solto em decorrência da decisão do STF contrária à prisão após segunda instância. Na opinião da senhora, o que muda no cenário político com esse novo fato?Houve uma decisão da Suprema Corte que deu base para que o presidente usufruísse dessa decisão.
Não é uma questão de se o que está acontecendo no Chile, na Bolívia e no Peru prejudica o Brasil, é o Brasil que está se prejudicando com a cisão, com a corrupção, com um governo que não respeita o meio ambiente, os povos indígenas, os direitos humanos, a liberdade de expressão e aquilo que é a natureza de uma democracia ocidental.
Aliás, foi a coisa mais acertada, porque quando eu saí as pessoas sabiam o que estava sendo feito e o que estava em risco; se não tivesse tido uma comoção, o plano não teria continuado.Eu saí porque os mesmos que dizem que não existem mudanças climáticas também iam dizer na época.
AP – Em entrevista em 2010, a senhora afirmou que Mangabeira Unger “fez um grande mal para a Amazônia” – meses antes, uma reportagem havia revelado que propostas de mudanças de Mangabeira à MP da Amazônia beneficiavam Daniel Dantas, dono de terras na região. Temer continuou a favorecer o agronegócio e agora o governo Bolsonaro quer a titulação de propriedades rurais por autodeclaração.
É como os diques da Holanda: se começam a ser furados, chega um momento em que arrebentam, e arrebentaram. Quando eu disse “fortalecer as bases”, era para que o governo assumisse o legado que produziu – e foi um grande legado, reconhecido no mundo inteiro. Sempre lutei para que fosse apropriado como uma ação de governo, mas era algo que ficava sempre no Ministério do Meio Ambiente, como se fosse uma coisa isolada e que não era importante, porque perdia voto.
AP – O último capítulo da crise ambiental é o vazamento de óleo que começou atingindo a costa do Nordeste e já afeta o Sudeste.
Outra coisa é o monitoramento e controle das águas de nosso domínio, é uma fragilidade, ainda que levantamentos estejam sendo feitos, mas é de uma demora e de uma falta de transparência – ainda bem que as universidades estão fazendo um acompanhamento conjunto. As tragédias envolvendo comunidades, pescadores, marisqueiros, comerciantes, pessoas que vivem na informalidade e que dependem do turismo, é algo aterrador.
Agora, tem um núcleo que, do mesmo jeito que faz a direita, quis se perpetuar no poder usando o dinheiro da corrupção. Ao menos que alguém consiga assumir que foi extremamente incompetente para não ver, ou totalmente conivente com a corrupção que acontecia. Nos dois casos, é grave.
Podemos ter bioindústria, agroindústria, sistemas agroflorestais que já vêm sendo testados, investimentos altíssimos em tecnologia. Aquilo que o professor Carlos Nobre chama de Amazônia 4.0 é uma alternativa, também o programa Amazônia Sustentável, feito durante a minha gestão, envolvendo dezoito ministérios e conversando com pesquisadores, governos locais, empresários, agentes públicos.
O desenvolvimento da Amazônia não é um problema técnico, é um problema político e ético. Respostas técnicas nós já temos, é colocar essa transição em marcha e esperar o tempo de maturação – ninguém espera que a nova economia nasça com a mesma força da economia que tem mais de 400 anos. AP – E a senhora acha que há abertura do agronegócio brasileiro para isso, com esses setores tão retrógrados que estão no governo?Muitas das pessoas deixam de fazer não porque são contraventores contumazes – para esses a lei, certo? E existem aqueles que não fazem porque não é apresentada outra alternativa. E eu te digo: a maioria das pessoas gostaria de ter boas alternativas. É uma transição. Acontece da noite pro dia? Não.
Ali você tem uma grande quantidade de matéria orgânica e a floresta: ao ficar com cada vez menos umidade e mais incidência do sol, sofre esses incêndios. O que nós temos pela frente, pelo meu entendimento, é um cenário incomparavelmente pior. Até porque a governança foi desmontada, o Ibama e o ICMBio estão enfraquecidos. Todas as formas de atuação estão enfraquecidas.
AP – O cacique Raoni afirmou, em entrevista recente, que, antes de Lula, todos os presidentes o “apoiaram muito para que pudesse ajudar seu povo”, e que com Lula a relação se deteriorou por conta da construção da usina de Belo Monte. Ele disse ainda que “nossa luta contra Bolsonaro é a mesma que fizemos contra Lula e Dilma”.
AP – Ao lado de Chico Mendes, a senhora militou no movimento sindical e ajudou a criar a CUT no Acre. Participou também do Partido Revolucionário Comunista e pregava a Teologia da Libertação quando católica.
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