Especialistas e diplomatas afirmam que polarização no Brasil e crises regionais levaram Lula a adotar tom mais distante em relação a antigos aliados.
Especialistas e diplomatas afirmam que polarização no Brasil e crises regionais levaram Lula a adotar tom mais distante em relação a antigos aliados.Antes da eleição venezuelana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ter ficado assustado com declarações de seu antigo aliado, o presidente Nicolás Maduro, sobre um eventual banho de sangue no país caso não vencesse a disputa.
Venezuela e Nicarágua, por exemplo, vivem crises políticas prolongadas, e seus presidentes são acusados de agir como ditadores, não respeitar direitos humanos e perseguir opositores. "Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo", disse Lula a jornalistas.
Quando recebeu Maduro no Brasil, Lula disse que parte das críticas contra a Venezuela eram uma 'narrativa'Na ocasião, Lula enviou seu assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim, à Venezuela para mediar a crise. A nota e a declaração de Lula foram encaradas como um sinal público de uma mudança na forma como o governo petista vinha lidando com Maduro.
Foi quando Maduro aconselhou o chá de camomila. Mesmo após Maduro levantar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, Lula decidiu enviar Amorim à Venezuela para acompanhar a eleição de 28 de julho. O Brasil, no entanto, preferiu aguardar e pediu, juntamente com Colômbia e México, que as autoridades da Venezuela apresentassem as atas de votação para garantir a lisura do pleito. Até agora, no entanto, nada foi apresentado.
"Nos dois primeiros mandatos de Lula, as alianças internacionais dele não eram alvo de críticas tão pesadas. Agora, o tema é instrumentalizado pela direita brasileira." "Parece que Lula não dava, no início do seu mandato, tanto valor a esse fato e, muitas vezes, falava de improviso e isso gerava muito ruído", afirma Pedroso.
A comissão tem maioria governista, mas também é composta por alguns dos principais opositores do governo Lula, como a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão .Apesar do caráter público das falas de Lula e Maduro, a tensão nas relações entre os dois países não parece ter chegado ao nível do que aconteceu nas últimas semanas entre o Brasil e a Nicarágua.
A ordem, segundo ele, era manter as relações em níveis mínimos, evitando situações que possam demonstrar o apoio do Brasil ao governo da Nicarágua. Dessa forma, o embaixador era orientado a não participar de eventos públicos de caráter político. O bispo Álvarez foi condenado por um tribunal nicaraguense por"desestabilizar o país" e se encontra em prisão domiciliar. Ortega, por sua vez, chamou a Igreja Católica de"ditadura perfeita".
Esse distanciamento contrasta com a proximidade que Lula e Ortega cultivaram entre o final dos anos 1970 e início dos 1980, quando eram vistos como dois dos principais líderes de esquerda da América Latina. Para Pedroso, a situação política na Nicarágua tornou qualquer tipo de apoio público a Ortega insustentável."Hoje, ele persegue os mesmos que fizeram a revolução com ele nos anos 1980. Essa mudança é tão evidente que até parte da esquerda brasileira não quer mais ter vínculo com o que acontece na Nicarágua."
Arce foi ministro da economia de Morales e contou com o apoio do ex-presidente para sucedê-lo, em 2020.Mas voltou a pleitear um novo mandato apesar de a Justiça boliviana já ter se manifestado pela impossibilidade de mais de dois mandatos presidenciais no país.Um dos ápices do desentendimento entre os dois aconteceu em junho deste ano quando militares tentaram invadir a sede do governo boliviano no que Arce classificou como uma tentativa de golpe de Estado.
Lula voltou da Bolívia sem se encontrar com Morales, embora não tenha descartado conversar com o líder boliviano no futuro.
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