Ahmed al Shara, líder do grupo islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), foi oficialmente nomeado presidente da Síria em um novo governo provisório. A decisão foi tomada após uma reunião com líderes de facções armadas que participam no conflito contra o regime de Bashar al-Assad. O novo governo promete a dissolução de todas as instituições estatais do antigo regime e a formação de novas estruturas de segurança e justiça. A transição será conduzida por um conselho legislativo temporário, com a promessa de uma nova constituição e eleições.
O comandante Ahmed al Shara, líder do grupo islamista Hayat Tahrir al Sham ( HTS ) e governante de facto da Síria desde dezembro passado, oficializou sua posição nesta quarta-feira após uma reunião com líderes de facções armadas que participaram na derrubada do regime de Bashar al-Assad.
A partir de agora, Al Shara “assumirá o cargo de presidente da República Árabe Síria e a representará em fóruns internacionais” durante o “período transitório”, no qual a Constituição aprovada pelo Governo de Assad em 2012, assim como todas as leis de exceção, são anuladas, anunciou o coronel Hassan Abdul Ghani, porta-voz da coalização de grupos rebeldes que conduziu a ofensiva final contra o regime. Também é proibido o Partido Baaz, que dominava a política síria há mais de meio século. O período de transição durará por um tempo indefinido, já que o calendário inicialmente previsto sofreu vários atrasos. Por enquanto, o país é administrado por um Governo provisório dominado por membros do chamado Governo de Salvamento, que até dezembro governava na província noroeste de Idlib sob o comando do HTS. Embora a Constituição vigente tenha sido “cancelada”, segundo o anúncio de quarta-feira, na verdade, por enquanto, as novas autoridades se orientam pelas leis e normas herdadas do antigo regime. Agora, ao Executivo se junta um “conselho legislativo temporário”, que o conclave de facções militares autorizou Al Shara a nomear. Este conselho exercerá funções até que uma nova Constituição seja aprovada, explicou Abdul Ghani. Para redatar a nova Constituição, o primeiro passo é convocar uma Conferência de Diálogo Nacional, prevista para janeiro, mas adiada para uma nova data. O ministro das Relações Exteriores sírio, Asad al Shibani, explicou que o atraso se deve ao fato de as novas autoridades terem decidido ampliar o comité preparatório e assegurou que, quando for convocada, “incluirá homens e mulheres capazes de representar todo o povo sírio e todos os segmentos da sociedade”. Um ativista sírio que teve acesso à lista de convidados afirmou ao EL PAÍS que o primeiro rascunho de convidados incluía uma maioria de islamistas próximos ao HTS. Por isso, em uma entrevista com este jornal, o presidente da oposição síria no exílio, Hadi al Bahra, considerou positivo que a Conferencia tenha sido adiada para garantir uma melhor preparação e maior inclusividade. Do conclave com os líderes militares rebeldes também saiu a ordem de que “todas as facções militares e organismos revolucionários políticos e civis devem ser dissolvidas e integradas nas instituições estatais”. Por enquanto, embora alguns grupos tivessem decidido se integrar imediatamente nas novas forças armadas e de segurança, na verdade, especialmente entre os rebeldes das províncias do sul, há certa relutância em entregar as armas até que se forme um verdadeiro Governo de transição com representação de todas as forças que se opuseram à ditadura dos Assad. Embora não seja mencionado pelo nome, a ordem também se aplica ao HTS, que deveria se dissolver e entregar suas armas. Da mesma forma, as antigas Forças Armadas da Síria são dissolvidas, juntamente com todas as agências de segurança e milícias formadas pelo regime anterior. Em seu lugar “serão formadas novas instituições para preservar a segurança dos cidadãos e será reconstruído o exército sírio”, afirmou Abdul Ghani. Desde o triunfo dos rebeldes, foi oferecida uma amnistia e feito um apelo para que antigos soldados e policiais compareçam às novas autoridades para entregar as suas armas e passar por um exame de segurança. Milhares de antigos soldados responderam ao apelo, mas centenas mais se refugiaram nas montanhas ou permaneceram clandestinas e realizaram ataques contra as novas forças de segurança. Outra decisão anunciada nesta quarta-feira é a “dissolução do Partido Árabe Socialista Baaz e dos partidos do Frente Nacional Progresista” (uma coalizão de formações nominalmente de esquerda que servia como instrumento do regime para dar certa aparência multipartidária). “É proibida sua reconstituição sob qualquer outro nome e todos os seus ativos serão devolvidos ao Estado”, afirmou o porta-voz do conclave.
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