O estudo do FGV Ibre revela que a indústria brasileira respondeu por 76% do aumento do saldo de vagas formais em 2024, impulsionada por investimentos produtivos e pelo bom desempenho do consumo. No entanto, a expectativa para 2025 é de desaceleração devido ao impacto gradual do aumento dos juros na atividade econômica.
A indústria brasileira respondeu por 76% do aumento do saldo de vagas formais de trabalho em 2024, de acordo com um estudo exclusivo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) antecipado ao Valor. Em 2024, foram criadas 1.694 milhão de vagas formais, 239,5 mil a mais que o saldo de 1,454 milhão em 2023.
Dessas 239,5 mil novas vagas, 181,8 mil foram na indústria, aponta o levantamento das pesquisadoras do FGV Ibre Janaína Feijó e Helena Zahar a partir de dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Dos cinco grandes setores que compõem a economia, indústria, comércio e serviços tiveram saldo maior de vagas formais em 2024 que em 2023, mas o ritmo de alta foi muito diferente: 145,5%, 22,3% e 7,7%, respectivamente. O impacto gradual do aumento de juros na atividade econômica, no entanto, pode levar a um cenário diferente em 2025, especialmente a partir de meados do ano, afirmam especialistas. Um dos fatores é que parte desse crescimento do emprego industrial vem de investimentos produtivos favorecidos pela trajetória de queda da Selic entre agosto de 2023 e maio de 2024. “Sete a cada dez novas vagas formais criadas no ano passado vieram da indústria. Muito do incremento do saldo de postos de trabalho no setor formal dependeu da indústria. Foi um bom momento do setor, até mesmo pode-se dizer que foi um ‘outlier’ diante do histórico dos últimos anos”, afirma a economista Janaína Feijó, que além de pesquisadora do FGV Ibre é professora da Escola Brasileira de Economia e Finanças da FGV (FGV EPGE). Dentro da indústria, o aumento de vagas foi puxado pelas chamadas funções transversais, que atuam em operação de equipamentos, veículos e robôs em diferentes segmentos, aponta o trabalho do FGV Ibre. Tradicionalmente, a indústria tem grau maior de formalização. Em 2024, era de 67%, ante 40% do setor privado, segundo o Instituto para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Números levantados pelo instituto a partir da Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - que incluem o mercado informal - também mostram ritmo maior de crescimento de vagas na indústria geral (3,1%) que no setor privado como um todo (2,7%). Os dados do emprego formal refletem, segundo Feijó, o bom momento da indústria no ano passado, favorecida pelo consumo e também pelos investimentos produtivos. A produção industrial cresceu 3,1% em 2024, ante avanço de apenas 0,1% em 2023, segundo o IBGE. Foi a taxa mais intensa desde 2021 (3,9%), que foi o ano de rebate após a queda de 4,5% em 2020, primeiro ano da pandemia. A combinação de juros mais baixos no início de 2024, aumento nos programas de transferência de renda - favorecendo as classes de renda mais baixas, com maior propensão a consumir - e melhora do mercado de trabalho explica a expansão industrial no ano passado, diz o economista sênior do Iedi, Rafael Cagnin. “O crédito puxou mais os bens de consumo duráveis e os bens de capital. Ao mesmo tempo, com mais gente recebendo Bolsa Família, há mais demanda para itens como bens semiduráveis e não duráveis. E junta-se a isso o aumento da massa salarial.” Para 2025, a expectativa é de arrefecimento da indústria e do emprego no setor. Pela última projeção do Boletim Macro Ibre, o crescimento da produção deve desacelerar de 3,1% em 2024 para 2,4% em 2025. Na LCA 4intelligence, a estimativa é de alta ainda menor (1,6%). A Tendências Consultoria, por sua vez, prevê taxa de 2,4%, mas com viés de baixa. O analista João Leme vê mudança no cenário depois do primeiro semestre: “Com o tempo, a expectativa é que a política monetária mais contracionista, com o crédito mais restrito, que começamos a ver em dezembro, além de um impulso fiscal negativo, acabe segurando o ímpeto da indústria.” Leme cita também possível influência do dólar mais alto, a despeito da queda recente. “O câmbio também pode ser uma variável importante porque aumenta o custo das empresas, ainda que em janeiro tenha dado uma aliviada”. Na avaliação de Rafael Cagnin, do Iedi, este ano deve ser de acomodação, diante da “subida muito aguda” dos juros: “Para 2025, a estimativa é de desaceleração, principalmente por causa da subida muito aguda da taxa de juros. O ano será de acomodação. Não é que o emprego industrial vai cair, mas a expectativa é de desaceleração”, diz Cagnin. A visão de desaceleração é compartilhada por Janaína Feijó, autora do estudo do FGV Ibre. Segundo ela, a tendência é de um desempenho mais homogêneo em termos de emprego entre os diferentes setores da economia. “O ano de 2025 não deve repetir o bom desempenho do emprego industrial que se viu em 2024. O grau de importância para o emprego formal deve ser mais próximo entre os setores”, nota.
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