Sessenta anos depois, o debate em torno do termo a ser usado para designar o que aconteceu no dia 31 de março parece tão vivo quanto no ano de 1964.
Tropas equipadas com tanques protegem o Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro, enquanto começavam os rumores contra o então presidente João GoulartEsta frase faz parte do primeiro parágrafo do Ato Institucional nº 1, o primeiro de uma série de medidas impostas pelaque se seguiu ao dia 31 de março de 1964.
Ele desenvolveu uma classificação com três principais formas de mudança política: putsch político; golpe de Estado; e revolução. Antes de explicar os termos, ele faz uma ressalva. Lane explicou ainda que as revoluções podem ser de dois tipos. A primeira é a revolução política, que leva a mudanças apenas no sistema político. Um exemplo citado por ele foi a chamada Revolução Americana, quando os Estados Unidos entraram em guerra com o Reino Unido por sua independência e implantaram o regime republicano no país.
Lane explica que, em sua avaliação, o que aconteceu no Brasil "certamente" não foi uma revolução social, aquela que, segundo ele, traz mudanças profundas na sociedade e tem amplo apoio da população. Ponsoni explica que a persistência do debate sobre se foi golpe ou revolução se deve à carga semântica que os dois termos carregam.
"Os que dizem que foi uma revolução vão dizer que ela veio para mudar a ordem vigente. Que mudaram para salvar o Brasil de João Goulart. Eles dizem: 'por que não vamos chamar aquilo de golpe? Porque eu e meu grupo salvamos o Brasil da perdição comunista. Então, isso só pode ter sido uma revolução'", afirmou o professor.
Um exemplo foi o apoio de alguns dos principais grupos de mídia e empresariais da época, além de manifestações populares que levaram milhares de pessoas às ruas contra o governo do então presidente, como a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade. Ela foi realizada em São Paulo no dia 19 de março de 1964 e estima-se que levou entre 500 mil e 800 mil pessoas às ruas.
"Uma outra pesquisa mostra que apenas 7% dos entrevistados de São Paulo consideravam essas reformas desnecessárias, enquanto 79% as viam como necessárias, sendo que 40% do total ainda diziam que elas eram urgentes. Outro levantamento, realizado em várias capitais, assinalou 70% de apoio específico à reforma agrária", disse o professor.
"A sociedade está sempre revendo seus processos anteriores numa espécie de criação de memória sobre eles. E essa memória não é única e nem fechada. Ela está em disputa", explicou.
"A gente vai observar que crescem os revisionismos ideológicos do regime militar à medida que cresce também a participação das Forças Armadas na política brasileira Até a gente chegar no auge que foi o governo Bolsonaro", disse Cleto. "Somam-se ataques às Forças Armadas desfechados nesta semana em mais um aniversário da Revolução de 31 de março de 1964", dizia o texto.
"Acho que 1964 voltou a ser uma questão porque o Brasil mergulhou na mais grave crise desde que se instalou a Nova República . Se você observar os protestos contra o governo federal, sobretudo a partir de 2014 e mais ainda 2015, você vai notar um número crescente de manifestações pela volta dos militares", afirmou o professor.
Lula teve posteriormente sua condenação anulada pelo STF por entender que houve falhas na condução dos processos contra o petista. Com a anulação, Lula recuperou voltou a ser elegível e, em 2022, venceu Bolsonaro nas eleições presidenciais.
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