O pai de Dorival, Zé Carlos, foi assassinado por militares durante a ditadura, mas filho desconhecia muitos detalhes sobre o caso.
Em uma noite de setembro de 1990, Dorival Mata-Machado assistia à televisão com os avós paternos quando foi transmitida uma notícia que mexeu com a família: a
O pai dele havia sido uma das centenas de vítimas da ditadura militar brasileira, que teve início após o golpe entre 31 de março a 1º de abril de 1964. Dorival e outros parentes decidiram esclarecer se o pai dele realmente estava no cemitério de Belo Horizonte, cidade em que moravam. Para isso, entenderam que seria fundamental abrir pela primeira vez o caixão lacrado que havia sido entregue por militares à família.José Carlos da Mata Machado, mais conhecido como Zé Carlos, foi morto aos 27 anos, em outubro de 1973.
Contrário ao regime militar, Edgard teve o mandato cassado durante a ditadura, em 1968, com base no Ato Institucional Número Cinco , que permitiu medidas antidemocráticas, como a cassação de parlamentares da oposição. Conforme os documentos da Comissão Nacional da Verdade, Zé Carlos passou a ser perseguido intensamente por órgãos de repressão a partir de março de 1973, em meio a uma operação contra um grupo de militantes de esquerda do qual ele fazia parte, intitulado Ação Popular Marxista Leninista . No período, diversos integrantes desse coletivo foram presos ou mortos.
Mas a versão era fantasiosa, conforme foi comprovado por advogados da família na época e, décadas depois, pela Comissão Nacional da Verdade. O homem disse ter ouvido Zé Carlos, completamente machucado, pedindo: "Companheiro: meu nome é Mata Machado. Sou dirigente nacional da AP . Estou morrendo. Se puder, avise aos companheiros que eu não abri nada".
Em dezembro de 2001, ao receber o título de cidadã de Natal e do Rio Grande do Norte, Mércia fez um discurso sobre a sua carreira e mencionou Zé Carlos. A defensora descreveu ter ficado assustada com o estado do corpo do militante. Ela contou à família dele que Zé Carlos havia sofrido violência intensa, com diversas fraturas ósseas e que estava com a cabeça "espatifada".
Para convencer o coronel, ela disse ter respirado fundo e argumentado que enterrar os mortos seria um direito sagrado até mesmo na guerra, em que "os exércitos concedem sempre uma trégua, respeitando o inimigo, e entregando os corpos para sepultamento"."Zé Carlos está morto, e a família chora seu corpo.
Eles sabiam do esforço de Mércia, mas questionavam se realmente aquele caixão encaminhado pelo Exército, sob a condição de permanecer lacrado, carregava os restos mortais do filho. "Lembro que meus avós sempre assistiam a três telejornais seguidos, para ter opiniões diferentes", conta Dorival. "Como eu era pequeno na época que o caixão chegou, não sabia que havia chegado lacrado e nunca tinha sido aberto.”
Quando acharam o crânio de Zé Carlos no caixão, o dentista da família encaixou as partes encontradas e viu as consequências da tortura sofrida pelo militante. "Desde que me conheço por gente, sabia que ele tinha morrido. Mas sempre entendi que ele morreu lutando pelos pobres, sem que tivessem pedido ou sei lá se queriam isso, mas ele estava preocupado com os mais vulneráveis", diz Dorival.
"“Foi meu primeiro choque, porque até então meu pai era um herói. Ali, eu vi que ele foi um jovem normal, como outro qualquer", comenta. Naquele mesmo ano, a mãe de Dorival, Maria Madalena, recebeu o atestado de óbito do companheiro e ficou aliviada. "Acabou o velório", disse na época. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania disse em nota à reportagem que as indenizações aos familiares das vítimas ou às próprias vítimas da ditadura foram concedidas após análise da CEMDP.
Isso permitiu, por exemplo, que dissidentes pudessem voltar do exílio sem riscos de se tornarem presos políticos. Maria Aparecida de Aquino, que há mais de 30 anos estuda sobre a ditadura, define a "anistia ampla, geral e irrestrita, para torturados e torturadores" como um erro que precisa ser reparado.
Aquino aponta que há movimentos que até hoje tentam reverter essa lei para que os torturadores possam ser punidos de alguma forma, ainda que décadas depois.
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