Trajetória do antropólogo, etimólogo, educador, escritor e político, um dos maiores intelectuais brasileiros do século 20, é celebrada por ocasião de seu centenário de nascimento. g1
"Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
"Visionário" foi a definição citada tanto pelo indigenista Toni Lotar, conselheiro da Fundação Darcy Ribeiro , no Rio de Janeiro, que observou a preocupação do antropólogo com os indígenas e o meio ambiente, como pelo professor argentino da Universidade San Martin , de Buenos Aires, Andrés Kozel, coautor do livro Os futuros de Darcy Ribeiro , lançado neste ano.
Eram os anos 1940 e 1950, e Darcy, ex-estudante de medicina, queria entender a vida dos povos originários. Não exatamente pelos estudos específicos da Medicina, mas por seu interesse pelos povos. Conta que acabou se apaixonando pela questão e ficou amigo dos indígenas. Juruna, que foi do Partido Democrático Trabalhista , gravava, com um pequeno gravador, todas as declarações dos políticos. Era uma forma de poder cobrar depois que as palavras fossem cumpridas.
Darcy dizia que, sem a educação, os colonizadores acabariam vencendo. "Darcy era sociólogo, antropólogo, escritor, romancista, político e estadista", afirma o presidente da Fundação Darcy Ribeiro , José Ronaldo Alves da Cunha. Com a ditadura, Goulart e Darcy se exilaram em países da América Latina, e o intelectual foi convidado para dar palestras em várias universidades da região. O tempo no exílio acabou tendo influência na sua obra.
Ex-integrante do Partido Comunista, nos tempos da juventude, onde dizia ter aprendido muito sobre a importância de conceitos, por exemplo, da educação e da reforma agrária, ele não demonstrava convicção plena no comunismo e acabou se afastando do partido. 'Por que o Brasil não deu certo? Por que perdemos?' foram as perguntas feitas por Darcy ao escrever 'O Povo Brasileiro' — Foto: Fundação Darcy Ribeiro