Em situação de grande vulnerabilidade social, imigrantes haitianos que trabalham em frigoríficos costumam dividir domicílio com colegas para reduzir os custos e têm dificuldade para entender recomendações contra a covid-19 em português.
Regina Dal Castel Pinheiro, gerente de saúde do trabalhador da DIVS/SUV/SES, ligada à Superintendência de Vigilância em Saúde de Santa Catarina, conta que sua equipe chegou a visitar quatro domicílios de haitianos em Concórdia para verificar a condição em que viviam os trabalhadores.
Segundo ela, algumas empresas têm sido resistentes em adotar as medidas recomendadas para evitar o contágio nas fábricas: vigilância ativa para detectar novos casos ainda no início e isolá-los, distanciamento maior dos trabalhadores na linha de produção, adequação da entrada e saída dos turnos para evitar aglomerações e distanciamento maior dos trabalhadores nos transportes que os levam e trazem de cidades do entorno.
Entre as medidas protetivas, citam a utilização de máscara cirúrgica e de escudo facial pelos colaboradores e a instalação de barreiras laterais nas linhas de produção, impedindo contato entre trabalhadores, além dos habituais uniformes, luvas, máscaras e outros EPIs e camadas de proteção.
"Não posso dizer que os frigoríficos levaram a doença a essas regiões, mas dá pra dizer que aceleraram a disseminação", pontua o pesquisador, que é doutorando em geografia na UFRJ . O biólogo Robert Wallace, que há 25 anos estuda a indústria de carne e sua relação com o aparecimento de novas doenças, acrescenta que muitas empresas do setor não têm seguido as recomendações feitas pelas autoridades de saúde para tentar conter a disseminação da covid-19.
Apesar de o Sars-Cov-2 ter sido transmitido ao ser humano por uma espécie exótica, e não por um animal criado especificamente para o abate, o pesquisador defende que a pandemia de covid-19 também está ligada à forma como o setor está estruturado. Xaxim tem a quarta maior incidência de covid-19 no Estado, com 2.494 casos a cada 100 mil habitantes. Até dia 21 de julho, havia 761 diagnósticos confirmados e 19 óbitos.
Em uma conversa por telefone, ela explicou-lhe a situação, e a resposta do paciente surpreendeu a equipe.
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