Coluna | O caso dos 43 estudantes foi um divisor de águas porque deixou claro que política, polícia e cartéis eram a mesma pessoa. por pirescarol
Essa semana, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, pediu que a procuradoria-geral da República “cure uma ferida” antiga do país: resolver o caso do desaparecimento dos 43 estudantes da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, do povoado de Ayotzinapa, no estado mexicano de Guerrero.
Mas o desaparecimento dos 43 estudantes marcou o México. Eram jovens estudantes de 17, 18, 19 anos, que deixaram suas famílias numa eterna espera torturante, por não saberem até hoje, cinco anos depois, o aconteceu com eles.do que aconteceu com os meninos no dia do desaparecimento. Ainda hoje, pouco se avançou nas investigações.
Pela investigação da procuradoria-geral, os estudantes teriam sido entregues pela polícia a sicários do cartel Guerreros Unidos, que queimaram seus corpos e jogaram os restos em um rio. O caso foi um divisor de águas porque não dava mais para o governo colocar o massacre na conta de um grupo criminoso isolado. Estava claro ali que política, polícia e cartéis eram a mesma pessoa.
Na época, Enrique Peña Nieto estava na presidência com seu topete inabalável e a promessa de fazer reformas estruturais na economia – palavras mágicas que conquistaram a confiança de investidores e analistas. Na revista, foi chamado, na capa, de “salvador do México”. A tragédia de Ayotzinapa atropelou seus planos.
Reformas econômicas são importantes , mas a ligação cada vez mais evidente da política com a milícia e o aumento do discurso de desprezo em relação aos direitos humanos nunca nos deixará cumprir nosso potencial como país.É jornalista e roteirista. Passou pelas redações do Estadão e da revista piauí e hoje escreve para a seção de opinião do The New York Times en Español.