'Muito mais assustadores que a destruição foram os relatos de violência contra civis, tiros e execuções sumárias, além das pessoas mantidas à força em um porão', relata repórter em Irpin
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Ao longo de toda a rua Universytetska, carros civis foram perfurados por balas e estilhaços. Perto do Parque Central, no cruzamento com a Pushkinska, um dos deputados locais, Artem Hurin, relata ter visto corpos em três carros e um homem idoso morto estirado na rua. O complexo fica próximo do cruzamento entre as ruas Pushkinska e Vygovskogo, onde a mulher com casaco vermelho foi atropelada por veículos blindados russos. O prefeito da cidade, Oleksandr Markushyn, e diversos outros moradores disseram à BBC que o corpo dela permaneceu ali por quase um mês.
Mais da metade das vítimas nesta parte de Irpin foram mortas a tiros. Foram tantas as mulheres mortas nesse bairro residencial que o prefeito o rebatizou de "o local do assassinato das mulheres". Aqui, a maioria dos supostos crimes de guerra identificados pelos promotores e testemunhas ocorreu em meados de março e nos últimos dias antes da retirada russa.
Menkivska decidiu não sair de casa e permanecer onde estava. A guerra não era algo estranho para ela. Ela havia fugido da sua casa no leste da Ucrânia quando começou a guerra entre o exército ucraniano e os separatistas apoiados pela Rússia, em 2014. Por 43 anos, ela dirigiu o jardim da infância Vinochok e havia se aposentado há pouco tempo. "As pessoas ficavam me chamando e diziam: 'nós crescemos pelas mãos dela'. Ninguém consegue acreditar no que aconteceu", conta sua sobrinha, Natalya Dovga.
"Ele poderia ter voado para o oeste da Ucrânia ou para o exterior, mas decidiu ficar para cuidar do pai, dos mais velhos e para ajudar na evacuação das crianças", ela conta. Seus dois filhos haviam fugido com os netos, mas Tetiana, engenheira de 54 anos, havia decidido ficar escondida no porão.