Estima-se que mais de 12 mil crianças ucranianas estejam na Rússia à revelia de seus país. Muitas foram para uma colônia de férias promovida pelo Kremlin e nunca voltaram
Em meio a um mar de lágrimas mútuas, Oxana e sua filha Eva se derretem em um abraço terno na escada de um ônibus em Kiev na tarde do último sábado. A mãe acaricia o seu rosto, toca-a, olha para ela como se quisesse ter certeza de que a menina voltou da Rússia inteira e com saúde. Elas haviam se separado há 113 dias.
Mais de 200 menores ucranianos partiram em uma viagem em 28 de agosto para um acampamento de verão que duraria três semanas em uma praia russa no Mar Negro. Várias de suas mães, consultadas pelo EL PAÍS, admitem que tudo o que desejam é que os pequenos passem alguns dias de férias longe da guerra. Eles nunca pensaram que acabariam deixando-os do outro lado.
Esta ONG, dirigida pelo antigo provedor de menores no país, Mikola Kuleba, é a que facilitou a viagem de 14 mães de Kharkiv para a Rússia, para a qual foi necessário preparar passaportes. Depois de cruzar a Ucrânia, a Polônia, a Bielorrússia e a Rússia em uma viagem de ida e volta de 10 dias e cerca de 6 mil quilômetros por estrada, elas conseguiram recuperar 20 dessas crianças agora e outras 8 em setembro.
O EL PAÍS visitou a cidade de Nechvolodivka, no distrito de Kupiansk , no dia 30 de novembro. Lá, a reportagem se encontrou com três das mães que enviaram suas filhas para o acampamento sem suspeitar que as estavam colocando em perigo. Tampouco imaginavam a odisséia que implicaria recuperá-las. São elas Ludmila, 48, mãe de Veronika, 13; Taisia, 32, mãe de Daria, 15, e Tamara, 53, mãe de Kátia, 12.
Enquanto isso, as comunicações com suas filhas eram fluidas por meio de telefones celulares. Frequentemente faziam ligações, videoconferências e trocavam fotos. Todas as três afirmaram que foram bem tratadas e forneceram roupas e alimentos. Elas reclamaram, no entanto, sobre alguns dos professores que viajaram com elas do lado das autoridades de ocupação.
O responsável jurídico da Save Ukraine não se deixa levar pelo otimismo de já ter conseguido trazer 28 menores. Sabe que esta é apenas uma pequena parte. Ela também tem certeza de que aqueles que ainda estão nas mãos das autoridades russas correm o risco de não retornar e serem vítimas de adoções ilegais se não conseguirem agilizar os procedimentos para recuperá-los o mais rápido possível.
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